Apresentação

Escrever sobre si não é uma tarefa fácil, sobretudo conhecendo as armadilhas dos textos que tão comumente se enredam nas célebres “ilusões biográficas”: as pretensas objetividade e linearidade, o efeito de verdade, a vida como uma totalidade coerente e sem contradições. Ao mesmo tempo, como desprezar o percurso individual e aquele que se constrói entre os pares? Levando essas questões em conta, atenho-me ao mínimo necessário para dizer algo sobre mim e sobre o meu fazer profissional.

Sem conseguir evitar um vício de ofício já tantas vezes questionado — a busca das origens —, vasculho “arquivos” internos para encontrar como nasceu o meu interesse pela História. A tendência para as humanidades se revelou cedo, despontando com o gosto pela leitura, pela reflexão, pela literatura. É preciso somar a isso as circunstâncias políticas vividas no final da adolescência, época em que os jovens olham o futuro e tentam encontrar o que lhes apetece fazer. Era final dos anos 1980, quando a retomada da democracia, após duas décadas de ditadura, gerava entusiasmo e esperança. O contagiante clima político jogou um papel importante para que, gradualmente, eu fosse me sentindo mais motivada a optar pela área de História, no universo de possibilidades que então estava aberto. Conhecer o passado ajudaria a entender melhor o presente. Essa frase, repetida à exaustão e que se tornou quase um clichê, guarda para mim, ainda, um sentido verdadeiro. Hoje, mais do que nunca, relembro e reforço quão importantes são os valores atrelados à democracia, que conheci com entusiasmo décadas atrás, e pelos quais penso que é preciso continuar lutando.

Minha formação se deu integralmente na USP. Entrei na graduação em História em 1991 e formei-me em 1995 no Bacharelado e em 1997 na Licenciatura. O Mestrado foi iniciado em 1998 e o Doutorado em 2001. Acredito que a formação recebida forneceu ferramentas para compreender o passado e o presente por uma ótica muito particular, isto é, pela lente do/a historiador/a, que pergunta, investiga, questiona, gosta dos detalhes, do empírico e das fontes, sem desprezar reflexões mais amplas.

Tornei-me docente no início dos anos 2000, lecionando no ensino superior privado. Depois estive em duas universidades públicas (a Federal de Viçosa. UFV, e a Federal de São Paulo, UNIFESP) antes de entrar no Departamento de História da USP, em 2013, onde também fiz minha Livre-Docência, em 2017.

Essa carreira abriu chances de me aproximar de múltiplas temáticas e abordagens: os estudos sobre a América Latina, o século XIX, a política e o Estado, as viagens e os viajantes, a história das mulheres e das relações de gênero. Foi nesses campos que desenvolvi a maior parte de minhas investigações, que deram e têm dado origem à produção de alguns textos e análises.

Associações e grupos passaram a fazer parte de minha trajetória ou eu passei a fazer parte das delas: a Associação Nacional de Pesquisadores de História das Américas (ANPHLAC), o Laboratório de Estudos de História das Américas (LEHA - USP), o Grupo de Pesquisa em Gênero e História (GRUPEG-Hist/USP).

Nesta trajetória, também conheci pessoas incríveis, das mais experientes às mais jovens, o que segue acontecendo. Essas relações aconchegam, divertem e compensam alguma aridez que possa haver no caminho. São mestres, parceiros/as, amigos/as - e os familiares, sempre presentes. São pessoas queridas que também estão em tudo o que faço.

Este site é, para mim, uma oportunidade de mostrar alguns passos desse percurso.

 

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​​​​​​​ Stella Maris Scatena Franco
 Profa. Associada do Departamento de História
 Universidade de São Paulo